06 dezembro 2009

A minha alegre casinha

Aquela casa, que casa maravilhosa…

Que saudades de descer em direcção ao rio pela manhã para apanhar o comboio. Que saudades daquele quarto com roupa espalhada por todo o lado que parecia não haver ida forma de estar arrumado. Saudades de todos os que me cansaram, me enlouqueceram, me levaram aos limites, mas que só hoje consigo perceber o quão importantes foram para mim.


Saudades que o I passe lá as tardes, as noites, os dias... saudades que o i faça da sala o seu quarto, vezes sem conta. E aquela cozinha, quando ficava cheia de louça… Quando o i partiu a janela da sala e não tinhamos pá para apanhar os vidros... Quando chegava de madrugrada e era tudo só meu. Era tããããão bom mas tão triste quando não estavam. Mas tenho saudades sim, não voltava atrás com nada, não me importo que tenham gritado comigo e que tenha limpo a casa vezes sem fim. Não me arrependo das vezes em que me sentia sozinha, apanhava o autocarro e jantava sozinha. Não me arrependo do dinheiro absurdo que deixei em lojas sem fim para por a casa bonita. Não me arrependo de ter cantado à janela com a A e das festas que fizemos! Muito menos vou me esquecer do nosso avante ou das festas de aniversario... Não me arrependo de ter ficado sozinha 2 semanas e que tenham chegado nojentos a casa, mais feios que macacos, porque tinha tantas saudades deles. E quando o R chegava, buzinava e toda a gente gritava da sala. Quando ele entrava em casa pela janela… Quando alguém chegava e eu espreitava pela janela para ver quem era… E quando eu chegava e alguém espreitava pela janela para ver quem era. E de repente aquela casa parecia de toda a gente menos minha. E lá andava eu a tentar não ter copos e garrafas e cinzas pela casa inteira.



Saudades do barulho daquela casa! Saudades de me sentir sozinha quando a casa estava cheia! Saudades de todos os que batiam à porta daquela casa… Dos que entravam e ficavam para jantar. Saudades do nosso arroz de marisco, que tinha tudo menos de maravilhoso! A luz daquela casa ou a falta dela… Saudades de adormecer no sofá enrolada na manta branca… Saudades das noites passadas a falar de coisa nenhuma e de só adormecermos quando começava o Diário da Manhã. Saudades de morrer a rir a ver Républica Espanhola. Saudades de quando queriam dormir e eu não os deixava porque já eram 5 da manhã e eu tinha que me levantar às sete. Saudades das directas e de estar morrer o dia inteiro, dias a fio... Saudades dos gritos do J, do jamaica style do I que nunca tem uma conversa de jeito… E de dormir na cama do J porque tinha saudades dele! Saudades que mandem beijinhos aos gritos à minha mãe quando estava ao telefone com ela. Saudades de deixar o aspirador pelo meio da casa e de os ouvir a reclamar vezes sem conta. Saudades do frango assado. Saudades do verdocas. Tenho saudades que cheguem de madrugada e de ficar acordada a ouvir o histerismo e as histórias daquela noite sem que percebessem que estava a ouvir. De ver o J dormir antes de sair e pensar “estou na melhor casa do mundo”. Tenho saudades que o i ficasse maluco com a comida toda que trazia e comprava! E gostei sempre tanto dos dois…J, hás-de ser sempre "quase o primeiro"… i, hás de ser sempre o eterno sonhador lá de casa… E todos os que passaram por ali, um Obrigada! Foi maravilhoso pelas dificuldades e pelos momentos que cantamos ou conhecemos pessoas na janela!



E que saudades daquela vida...

E que saudades daquela casa…

E que saudades daquilo que chamávamos “vidas inúteis”.

E que saudades da minha alegre casinha...


"Sem fé, você dizia, sem amor, sem perdão, sem
caridade, seremos eternos peregrinos em busca de uma felicidade que jamais será
alcançada."